Spotlight: O Percurso de Burna Boy

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Não foi assim há tanto tempo que o rótulo de “Afrobeats” era olhado com estranheza. Em poucos anos, e com a ajuda de novas plataformas de social media, a música de África Ocidental – da Nigéria, do Gana e a da sua diáspora – tomou conta do mundo. Encheu estádios, colheu prémios, moldou a música pop global. Entre nomes como Wizkid, Davido ou Tems, muito desse rise meteórico assentou sobre os ombros de um African Giant, que passa este fim de semana por Portugal. Bons motivos para perguntar: quem é, afinal, Burna Boy?

Damini Ogulu nasceu em Port Harcourt, a quinta maior cidade da Nigéria, rodeado de música. O avô foi manager de Fela Kuti, lenda nigeriana e precursor do Afrobeat (assim, sem “s”). A carreira musical de Burna, com mais de uma década, cresceria entre Lagos e Londres – para onde foi estudar – na base da tenacidade e do hard work. A sua música fez ondas na Nigéria, depois conquistou o underground britânico, e pelo caminho formou uma identidade própria. Com o boom da música de West Africa, Burna estava na posição perfeita para se assumir como figurehead. O resto é história que conhecemos bem: colaborações com Beyoncé e Ed Sheeran, a O2 Arena e o Madison Square Garden esgotados, a Burberry a vesti-lo para a Met Gala, a hegemonia dos tops britânicos. E um Grammy por Twice as Tall, o seu quinto álbum.

Hoje, é Burna Boy quem rejeita o rótulo de Afrobeats. É polémico, mas associa o género a uma suposta falta de conteúdo. Substituiu-o pela sua “Afrofusion”, convocando influências UK, dancehall, rap. É um quebrar de fronteiras que permanece distintamente africano – até quando rima, Burna mistura inglês com yoruba e igbo. A sua música é para o dancefloor tanto quanto é política, com uma mensagem pan-africana, de união e revolta contra a opressão. Um curativo para as tensões étnicas que ainda atravessam a Nigéria pós-colonial, história que está samplada na sua música. O African Giant é um líder geracional, tem uma responsabilidade simbólica sobre os ombros. Não sabemos o que fará com ela, mas o seu nome já está gravado na história da Nigéria e na história da música do continente africano. 

Sobe a palco amanhã, 31 de agosto, no MEO Kalorama.