A moda psicadélica de PROLETA RE ART: à conversa com PROT

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Recentemente, tive o prazer de conhecer PROT, o designer e fundador do projeto PROLETA RE ART. A marca está sediada em Tóquio e, apesar ainda nova no mercado, tem atraído a atenção de stylists, celebridades e blogs de moda um pouco por todo o mundo – muito graças a um processo único de produção, com peças feitas à mão através do recurso a materiais usados e técnicas tradicionais japonesas. O percurso de PROT no mundo da moda, contudo, não começou agora, e já vinha deixando uma marca significativa na cena japonesa. Aproveitando este culminar de carreira, fomos conversar com o designer e perceber um pouco a sua história e visão.

Apresenta-te aos nossos leitores.
Trabalho sob o nome de PROT e vou fazer 34 anos este ano.

Podes falar-nos um pouco da tua infância e adolescência?
Durante a minha infância mudei muitas vezes de escola, por causa do trabalho dos meus pais. Vivi nas prefeituras de Kanagawa, Osaka e Saitama. Quando estava no ensino básico, marcas de streetwear como A BATHING APE já eram populares no Japão, e eu ia sendo exposto à moda quando lia revistas e achava aquelas roupas tão fixes. Fui muitas vezes a Harajuku, em Tóquio, para comprar roupas usadas. Para além do meu interesse pela moda, também gostava muito de desenhar, chegava a ganhar competições com alguma frequência, e adorava videojogos – era apaixonado por jogos de ação, como Mario e Megaman.  

Como começou a tua carreira?
Quando fui para o secundário não me integrei bem, e andava um bocado à toa. A minha mãe sugeriu que seguisse uma carreira artística, então mudei de área e acabei numa faculdade de artes, em Tóquio. Foi a partir daí que começou a minha carreira como artista e designer.

Como é que chegaste à KAPITAL?
Ainda enquanto estudante universitário, andava à procura de roupa na internet e encontrei uma foto de peças da KAPITAL. Fiquei com a pulga atrás da orelha, fui visitar a loja deles em Tóquio, e fiquei logo viciado. Quando acabei a licenciatura consegui juntar-me à empresa como designer da linha vintage, e ao fim de cinco anos tornei-me o chefe desse departamento.

Como foram os anos que lá passaste?
Estávamos sempre ocupados, ao ponto de não termos tempo para dormir. Tínhamos a nossa própria fábrica, na zona mais rural do Japão, e por isso podia fazer as minhas próprias amostras e desenvolver as minhas capacidades em constante comunicação com os artesãos. Também pude aprender muito sobre o processo de design.
A parte mais divertida era quando desenvolvia novos processos por tentativa erro, com os artesãos de processamento vintage, e esses processos eram incorporados na linha de design e levavam a um hit product.

Porque é que decidiste começar o teu próprio projeto?
Tinha deixado o meu trabalho por questões de saúde, e comecei a pensar no estilo de vida que gostava de levar. Quando entrei para a KAPITAL, deixei de ter tempo para moldar peças com as minhas próprias mãos, e quando me tornei Chefe de Design só dava instruções aos outros. Eu sempre fui o tipo de pessoa que tira prazer de esculpir as próprias ideias, por isso decidi voltar ao início e começar um projeto onde pudesse assinar os meus designs.

Qual é o conceito por trás da PROLETA RE ART?
O conceito vem da palavra “proletariat” – o proletariado, a classe trabalhadora, como está claro no nome da marca. O “RE ART” vinca a ideia de rearticular peças de roupa, criar coisas novas a partir do que está usado.

Como descreverias o teu processo criativo e técnicas de confeção?
O meu processo mais forte é o “processamento vintage”. As pessoas tendem a pensar nisto como tentar replicar a estética vintage, dar às peças um falso aspeto usado. Eu penso nisto como tendo um papel semelhante à maquilhagem no cinema, é sempre uma parte importante de um filme – há uma história, há personagens, e é necessário um trabalho cosmético que faça esse mundo parecer real. Da mesma forma, a roupa vintage tem uma história, e quando a reencarnamos em novos designs é importante dar-lhe esse acabamento realista, somos transportados por essa aura vintage.

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Como vês a PROLETA RE ART daqui a 10 anos?
Se o meu corpo ainda funcionar, acho que vou continuar a fazer peças únicas, como faço agora. O processamento vintage é muito desgastante fisicamente, por isso tenho de ter muito cuidado com a minha saúde.

Quanto tempo demoras a fazer cada peça?
Como cada peça é única, não consigo dizer de forma exata. Algumas das peças da série Boro levaram-me cerca de 30 horas a fazer.

A sustentabilidade é um aspeto importante no teu processo de produção?
Basicamente, eu só uso materiais que já passaram pelas mãos de outros, sejam roupas usadas, bandanas vintage, ou tecidos japoneses com mais de cem anos. Há também um contraste direto em relação à produção em massa: eu desenho e confeciono os meus próprios materiais, o que significa que não há praticamente nenhum desperdício de tecido no corte nem resíduos industriais.
No entanto, o que eu considero mais importante no que toca à sustentabilidade não é uma ideia de ecologia superficial. Eu quero fazer roupas que as pessoas queiram ter para sempre, que não sejam descartáveis. Como faço tudo com as minhas mãos, consigo garantir essa qualidade, e espero que as pessoas se sintam da mesma forma em relação às minhas peças.

O que achas da cena de Tóquio e da sua influência na moda mundial?
Para ser sincero, eu não sinto que a cena da moda em Tóquio seja particularmente próspera, mas acho que a cultura maníaca dos animes, mangas e video jogos é adequada ao temperamento japonês e é uma cultura que consegue competir a nível mundial. De certa forma, o processamento vintage também pode ser inspirado por essa vertente Otaku. Eu gostava de criar uma onda no mundo que tirasse proveito da “geekiness” japonesa, de uma forma positiva. Eu gosto de otakus que estejam imersos naquilo de que realmente gostam.

Por fim, o que podemos esperar dos próximos lançamentos da PROLETA RE ART?
Eu trabalho sozinho em minha casa, com equipamento e técnicas limitadas, e foco-me especialmente em gangas e alguns artigos específicos. O que me entusiasma agora é a possibilidade de expandir horizontes, de lançar joalharia, calçado e outras peças, colaborando com pessoas que tenham o talento e capacidade para os produzir.