Virgil Abloh levanta voo na coleção outono/inverno 2021 da Louis Vuitton

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A sexta coleção de Virgil Abloh ao serviço da Louis Vuitton, é sem a menor dúvida a mais impactante de todas elas. “Ebonics” parte da inspiração no ensaio de 1953 “Stranger in the Village”, na qual James Baldwin relata a sua experiência enquanto afro-americano a residir numa aldeia suíça onde os residentes nunca tinham visto um negro antes – um reflexo para a experiência de Virgil sobre o que é ser negro enquanto diretor criativo de uma casa tradicional como a Louis Vuitton, e que naturalmente pesou muito no casting dos modelos. O resultado é a coleção mais autobiográfica do criativo de Chicago até à data.

A proibição de desfiles tradicionais nas mãos do Virgil Abloh (e de Ibrahim Kamara) foi só mais uma ferramenta para expressar a sua visão, recrutando Josh Johnson para executá-la através de um filme poderoso com várias performances dignas de registo. Entre cenas de patinagem no gelo e dança, saltou à vista a poesia do lendário Saul Williams e de Kai-Isaiah Jamal (na primeira vez que a Louis Vuitton contou com black trans models), mas também a performance de Yasiin Bey. A arte de resto marcou presença de várias formas nesta apresentação, através de nomes como Kandis Williams, Tosh Basco, Black Cracker e Steven Sowah, da icónica cadeira Barcelona desenhada por Mies Van der Rohe e Lilly Reich em 1929 até às mensagens do artista conceptual Lawrence Weiner que adornam várias peças da coleção – como “YOU CAN TELL A BOOK BY ITS COVER”, “THE SAME PLACE AT THE SAME TIME”, “SOMEWHERE SOMEHOW”.

 

Mas “Ebonics” não vive só da apresentação teatral e mediatismo. Nas palavras da Louis Vuitton, a coleção ela investiga quatro “arquétipos” de sociedade – o artista, o vendedor, o arquiteto e o vagabundo – que no fundo representam quatro momentos da vida de Virgil Abloh. Mas a identidade e herança de Abloh não está presente só nestas metáforas, também surge de formas mais literais: exemplo disso é a utilização de Kente, um tecido tradicional do Gana, país de origem da sua família. O slogan “Tourist vs Purist”, escrito por Virgil aquando da sua chegada à casa francesa, regressa como um statement ainda mais forte e que contrapõe as posições de outsider com vontade aprender e a de insider com muito para ensinar – já que neste momento se encontra simultaneamente nas duas.

Embora se trate de uma coleção consistente, algumas peças saltam naturalmente à vista, a começar por uma enorme variedade de fatos reinterpretados com todo o tipo de materiais como plástico reciclado, saias plissadas, casacos varsity – e não podemos ignorar os casacos insuflados com a skyline de Paris e New York. As viagens são outro dos grandes temas desta coleção, onde também podemos encontrar fechos em forma de avião nos casacos e uma Keepal-avião com o monograma nas cores tradicionais, e que divide com as malas cromadas a posição de grande destaque desta coleção.