A Complex obteve informações exclusivas de reuniões internas da Nike, um leak que nos conta muito sobre a SNKRS app. Embora a aplicação seja, em grande parte, um sucesso incontornável – é a principal ferramenta da marca para o lançamento de novas sapatilhas -, a verdade é que também tem sido alvo de muitas críticas. A maioria dos sneakerheads conhece bem a frustração dos números limitados, e a Nike quer resolver esse problema para não alienar os seus clientes mais fiéis.
Um dos slides de uma reunião, dizem-nos, falava de uma preocupação específica. Muitos clientes olham para estes lançamentos limitados como uma “máquina de hype”, responsável por “matar a cultura”, e estão a abandonar a Nike por concorrentes que a marca americana nomeia: a New Balance, por exemplo, mas também algumas marcas mais pequenas e independentes, a que se junta a entrada de marcas de luxo no mercado.
A solução? Ron Faris, um dos diretores da Nike, acredita que passa por restaurar um sentido de “justiça” na aplicação. É o próprio quem avança até uma comparação com o fenómeno de gentrificação: o colecionismo de sneakers passou de uma atividade subcultural para algo mais mainstream, e os grupos que formaram a cultura no seu início já não se reconhecem nela. A missão é corrigir esse problema. “O mercado tem de refletir a comunidade que servimos”, afirmou Ron Faris, “especialmente nas comunidades negras e asiáticas, temos de demonstrar que nos preocupamos realmente com a igualdade e a inclusão”.
As reuniões também apresentam números (que a Nike recusou confirmar) que nos dão uma ideia da dimensão da SNKRS – com um crescimento de utilizadores na ordem dos 57% só no último ano, as despesas na app ascendem aos 1.69 mil milhões de dólares. A procura também terá crescido 70% no último ano, mas apenas 7% obteve resposta – o que é ilustrativo da dimensão do problema.
Faris desenvolveu ainda o seu diagnóstico, e acrescentou que muita gente acha que o problema são os bots”, mas garantiu que a Nike faz um bom trabalho a evitar batotas online. O problema é mesmo a falta de produto. A solução passará por “redefinir a noção de escassez”, como foi feito com as Off-White x Nike Dunk Low neste verão. A coleção de 50 colorways foi lançada através do programa de acesso exclusivo da SNKRS, evitando o sistema de lotarias, e contou com a disponibilização de 500 mil pares. Desta forma, mantém-se uma ideia de raridade e exclusividade, mas com uma edição de números significativos.
A Nike terá prometido ainda mais experiências em torno dos lançamentos, e procurará reconectar-se com as pessoas que abandonaram a sneaker culture. O que é que isto significa? Faris explica: “significa que precisamos de ouvir as pessoas. Não vamos ditar a cultura, é a comunidade que tem de o fazer, e nós temos de ouvir.”