Paris Fashion Week: Kim Jones redefine o tailoring na coleção SS20 da Dior Homme

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Uma casa de alta-costura rege-se pela sua história, e intrinsecamente conectado com a narração dos momentos mais extraordinários de cada maison, está o conceito de tempo. Foi com base nesta ideia de temporalidade, num jogo entre o passado histórico e o futuro idílico, que Kim Jones, atual diretor artístico da Dior Homme, se inspirou para a criação da coleção de Verão 2020.

A concretização física do legado de Christian Dior, aliado ao espírito visionário de Kim Jones, resultou numa obra que vai para além dos limites físicos dos tecidos. Daniel Arsham, artista multidisciplinar, ficara encarregue das peças monumentais expostas no Institut du Monde Arabe. Já Yoon Ahn, designer de joalharia, facilitou os designs das suas peças para serem reinventadas por Arsham.

Os elementos concebidos especialmente para a instalação cénica onde o desfile teria lugar, servem diferentes propósitos: se por um lado nos aproximam das origens da maison, sendo exemplos o relógio e o telefone esculpidos tendo como referência os que se encontravam no escritório de Christian Dior; por outro, simbolizam a chegada de uma nova época que prevê o renascimento dos códigos de estética e de moda impostos ao longo dos anos.

Num cenário imersivo, onde o tom rosado das paredes se fundia com o da areia que cobria a passerelle, foram revelados quarenta e nove looks. Notavelmente talhados a partir dos fundamentos da marca, a simplicidade brilha através de cortes excelentes, limpos e meticulosamente concebidos. Marcaram presença padrões de estilo japonês, simulações de aguarela através de organza prensada, e faixas de cetim. Os apelidados neoclássicos fizeram também a devida aparição: ora a Dior Saddlebag, ora o casaco “tailleur oblique”, de lapelas cruzadas em diagonal, sobrepostas sobre uma faixa de cetim. Introduzida na coleção de Inverno, a faixa sofre adaptações ao longo do desfile, podendo ser vista como uma sombra por trás das imponentes lapelas dos casacos, ou atravessando os modelos e percorrendo o mesmo caminho ao longo do areal.

O esquema cromático apresentado é diverso, amplificando a noção de obra total quando modelos vestidos a branco limpo surgem com anotações de tecidos pintados a laranja ou a azul; o que remonta para uma visão idílica de uma paisagem meticulosamente pensada.

 

Numa primeira colaboração com a marca alemã RIMOWA, Dior apresenta  uma coleção cápsula, que inclui uma mochila, um malote para champanhe, um estojo de mão, uma clutch, e uma mala de cabine, manufaturadas no material de eleição da marca – o alumínio. Os acessórios foram apresentados em tons de cinza, negro e rosa, e algumas versões incluem ainda o oblique motif da Dior, numa combinação que combina o cinza do alumínio e uma estampagem através de anodização, um processo inovador que permite a criação de reflexos e de pigmentos saturados e duradouros.

 

A coleção apresentada por Kim Jones reflete-se como a emancipação do espírito rígido e sóbrio prezado pela maison. Com olhos postos no futuro, o que Kim Jones criou foi o testemunho daquilo que une o passado histórico ao futuro, num jogo onde a coleção presente abraça todas as portas abertas pelo grande Monsieur e reflete as barreiras quebradas para celebrar e permitir o verdadeiro ato criativo. A história não é imutável, mas dinâmica. E o futuro parece promissor para a maison Dior, ou pelo menos Jones garante de que assim o seja.