O que destacamos de 2018 – Música

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2018 acabou e toda a gente tem opiniões em relação ao que melhor se fez durante o ano. Tarde e a más horas, fazemos nós também uma pequena reflexão sobre os pontos ou elementos que sublinhamos. Não lhes vamos chamar melhores do ano, mas até podiam ser.

Single Nacional: Profjam & Lhast – Água de Coco

É impossível falar de música em Portugal e não referir a Think Music. Ame-se ou odeie-se todos os elementos da editora de ProfJam marcaram o ano de 2018 pela positiva. Vários deles poderiam estar neste lugar, mas na verdade o “troféu” tem que ser atribuído ao cabecilha do colectivo. Este ano Profjam juntou-se a Lhast para nos brindar com a incrível Água de Coco – primeiro single do rapper a sair através da Sony Portugal – e já é single de ouro. Esta música é uma vitória das novas correntes e, possivelmente, um ponto de viragem em Portugal.

João Pereira

Single Internacional: Childish Gambino – This is America

Não foi fácil a escolha do melhor single, houve imensa qualidade musical ao longo deste ano. A nossa escolha recaiu na crítica social de Donald Glover, mais conhecido no mundo da música por Childish Gambino. Os versos proferidos pelo artista pintam de uma forma cruelmente realista o retrato dos Estados Unidos da América, acompanhados por um vídeo genial, que completa inteligentemente a mensagem é transmitida.

Sérgio Azevedo

Álbum Nacional: Conan Osiris – Adoro Bolos

Pode parecer cínico que o nosso destaque nacional de 2018 tenha na verdade sido lançado em 2017, mas dado que saiu durante o último dia do ano o seu impacto só se fez realmente sentir neste que acaba de passar. A melhor palavra que encontro para definir este disco é fracturante. Conan Osiris veio destruir todas as noções pré-estabelecidas daquilo que pode ou não ser feito, daquilo que deve ou não ser dito, daquilo que faz ou não sentido. Ao longo dos 11 temas que compõem o disco, levamos com kizomba, kuduro, dancehall, hip hop, música cigana, bollywood, ritmos dos balcãs, fado, funaná (e bem mais!) numa mistura que tinha tudo para não funcionar, mas foda-se, funciona! O seu génio também se revela nos textos, cuidadosamente arranjados e trabalhados, onde a construção técnica envergonha quase todos os rappers em Portugal e onde aborda e soluciona de uma forma quase absurda os dilemas da vida, recorrendo a uma linguagem própria que encaixa de uma maneira estranhamente harmoniosa nos instrumentais. Adoro Bolos foi a merecida catapulta que tirou Conan Osiris da sex shop onde trabalhava e o levou aos maiores palcos do país, aos cheques da NOS, à Vogue e ao nosso coração.

Ricardo Valente

Álbum Internacional: KIDS SEE GHOSTS

Twitter fingers, afirmações polémicas e chapéus vermelhos à parte, já se sentem saudades daqueles tempos entre o final de maio e o final de junho em que Kanye West nos brindava com música nova todas as semanas. Foram 5 discos onde o toque mágico de Ye se fez sentir, e em dois deles de maneira muito evidente. E este texto poderia muito facilmente ser sobre o Daytona de Pusha T, mas KIDS SEE GHOSTS carrega às costas o peso de um caminho que não pode ser ignorado e que o eleva para o estatuto de obra-prima. O disco marca a reunião e as tréguas de dois artistas incríveis, que se encontram em situações atribuladas. Por um lado, são conhecidos os graves problemas com a depressão que Kid Cudi tem enfrentado, por outro temos um Kanye publicamente volátil e a atravessar um dos períodos mais conturbados da sua saúde mental. Em Kids See Ghosts esta vulnerabilidade aparece visivelmente exposta e o disco parece funcionar como um exercício de catarse, onde ambos encaram e exorcizam os seus demónios fantasmas. Em termos musicais o disco poderia ser descrito como uma viagem psicadélica, onde já não se sabe bem onde é que o hip hop, o rock e a electrónica começam ou acabam, numa produção incrivelmente progressiva. Mas KIDS SEE GHOSTS não vale só pelos beats, Kanye West aparece com alguns dos melhores trechos da sua carreira e a performance de Kid Cudi é facilmente a melhor desde Man on the Moon. Aliás, fica a impressão de que cada um deles parece puxar pelo melhor do outro, o que de resto se fez notar em trabalhos passados de ambos. Fica a vontade de que se faça sentir novamente.

Ricardo Valente