No Reino Unido, o merchandising político ganha uma nova vida

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O Reino Unido vai a votos a 12 de dezembro, e o Partido Trabalhista corre atrás do prejuízo, com as sondagens a darem vantagem aos Conservadores de Boris Johnson. As hipóteses dos trabalhistas, um partido que virou à esquerda sob a liderança de Jeremy Corbyn, dependem de mobilizar os jovens para irem às urnas – numa eleição que promete ser particularmente decisiva para as gerações mais novas, ensombradas pelo Brexit e pela crise ambiental. Ora, é precisamente daqui que tem surgido uma pulsão criativa, resultando numa explosão de merchandising bastante especial de apoio ao “Labour”.

Não se trata aqui do que habitualmente associamos a merchandising político, longe dos bonés distribuídos nas autárquicas e perdidos no sótão dos vossos avós. O designer Liam Hodges, por exemplo, nome grande da streetwear inglesa, acaba de lançar o projeto “Labour x Fashion”, uma coleção de hoodies e gorros que reverte a favor da campanha trabalhista. Partindo da rosa que serve de símbolo ao partido, Hodges elabora peças esteticamente interessantes – que não usaríamos apenas por militância – com as propostas políticas do manifesto eleitoral gravadas nas costas. De forma mais alargada, o projeto de Hodges pretende mobilizar criativos locais, que veem em várias das promessas de Corbyn um novo fôlego para as artes: desde financiamento adicional para centros artísticos e comunitários, até à flexibilização do acesso à educação e à garantia de maior proteção para quem trabalha em freelance.

 

 

Numa proposta mais crítica, também Slowthai revelou há algumas semanas uma linha de t-shirts de ataque aos conservadores. Ecoando um motto também usado por Stormzy e pelo coletivo Grime4Corbyn, o rapper de Northampton lançou um par de t-shirts com um taxativo “Fuck Boris”, com ilustrações do primeiro-ministro inglês em poses menos favoráveis.

 

 

Não há dúvidas sobre a capacidade da moda para estimular movimentos culturais mais alargados, mas só daqui por um par de semanas saberemos a extensão do seu impacto eleitoral. Por agora, podemos entender este surgimento orgânico de merchandising político – há ainda, além destes casos, várias lojas “bootleg” a aparecerem paralelamente – como sintomático de uma geração mais jovem que começa a sacudir uma visão pessimista e sobranceira da política. A moda, e a arte em geral, não existem isoladas da sociedade, e uma visão emancipatória da política anda de mãos dadas com a criatividade.