Foi uma feud à antiga e, por agora, parece ter chegado ao fim. O beef entre Kendrick e Drake parou o mundo ao longo dos últimos dias, um fenómeno cultural como não vivíamos desde o Barbenheimer, e não há imparcialidade suficiente para negar o óbvio: K.Dot emerge como vencedor.
O rapper de Compton sempre reuniu mais respeito dos “hip hop heads”, e a sua avalanche de diss tracks com poucas horas de intervalo mostrou bem porquê: pen game, uma impressionante variedade de flows e deliveries, e os penetrantes ataques pessoais (que nos deixam ainda mais desconfortáveis com a aparente realidade da celebrity culture).
Só que Kendrick não ganhou apenas no terreno do “rap dos rappers” – emergiu igualmente vitorioso na arena mainstream, onde Drake estaria, achávamos, a jogar em casa. “Not Like Us”, a machadada final de Lamar, é um banger. Escalou as charts, bateu records no Spotify, dominou os memes e pôs clubs inteiros a gritar “certified pedophile”.
No rap de outros tempos, estaríamos a anunciar o funeral da carreira de Drake. Só que Drizzy é precisamente o rosto da conquista do mainstream pelo hip hop. A frequente acusação de “culture vulture” revela ao mesmo tempo a sua sensibilidade para as tendências e a hegemonia que detém sobre a cultura pop. Drake é um hit maker nato, um artista transversal e camaleónico para uma geração que – para o melhor e para o pior – tem um attention span cada vez mais curto. Já passou incólume pelo beef com Pusha T. Irá o mainstream cobrar-lhe de forma diferente esta derrota? Ou será que um hit de verão, à imagem de uma “One Dance”, chegará para varrer tudo para debaixo do tapete? Recuperando o título de uma das suas primeiras mixtapes, está aberta a Comeback Season.