Coleção “Memento” da Sanjo dá nova cara aos clássicos

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A Sanjo é um caso especial. Embora venha causando um certo burburinho entre um público in-the-know, é provável que o nome não vire muitas cabeças numa escola secundária. Já na geração dos pais e avós desses jovens, a situação será radicalmente diferente: as sapatilhas da marca de São João da Madeira eram, principalmente nas décadas de 70 e 80, aquilo a que hoje chamaríamos de autênticos “grails”, relembradas ainda com uma boa dose de carinho e nostalgia.

Na verdade, a história da Sanjo estende-se bem mais para trás, carregando já oito décadas de existência. Sob o Estado Novo, importar umas Chuck Taylor não era mais que uma possibilidade remota, e a Sanjo alcançou assim uma espécie de hegemonia no mercado. Requisitada por todos os lados – do exército aos basquetebolistas da Sanjoanense – a marca tinha até dificuldade em responder à procura. Ora, como bem sabemos, a pouca oferta só serve para aumentar a cobiça e a mitologia em torno das sapatilhas – fosse hoje, e certamente encontraríamos um inflacionado mercado de resell para estas “All Star” saídas do mais pequeno município do país.

A Sanjo tornava-se assim um símbolo da crescente autoestima de uma geração que, com o 25 de abril e a perspetiva de um Portugal na CEE, descobria uma identidade cosmopolita e alargava os seus horizontes.

Com mais do que uma ponta de ironia, foi também essa descoberta de novos mundos que começou a ditar a queda da marca. Com a abertura das fronteiras a outros mercados, os jovens portugueses punham os olhos nas Nike, na Converse, nas Adidas sobre as quais os RUN-DMC cantavam. A Sanjo demorou em adaptar-se, desaparecendo quando já os anos noventa iam pela metade. O novo milénio traria o regresso da marca, mas as exigências da modernização – especialmente as solas vulcanizadas, mas também uma releitura mais sofisticada dos seus designs – obrigaram a produção a deslocar-se para a China.

Não era sem estranheza que uma marca tão imbricada com a identidade nacional ostentava um “Made in China”. Convocando um sentimento igualmente português, a saudade impulsionou o retorno pródigo, já em 2014. Só que esse regresso a casa nunca poderia ser sinónimo de um retrocesso, de um fechamento sobre si mesmo: a Sanjo voltou, carregando toda a sua história, mas de olhos postos no mundo e pés bem firmados no século XXI.

Os últimos tempos têm sido evidência disso mesmo. Mantendo as referências incontornáveis – as sapatilhas K100 e K200 continuam a servir de pedra angular, a base do apelo nostálgico -, a marca tem desenvolvido novos produtos, contando para isso com uma inteligente estratégia de recrutamento criativo: a designers consagrados juntam-se nomes emergentes, captados através de concursos académicos. Isto permitiu também à Sanjo colocar-se no seio do universo da moda – comprovado por apresentações no Portugal Fashion e no Moda Lisboa – combinando a sua rica tradição com referências da cultura urbana bem distantes da fábrica de chapéus sanjoanense onde a marca nasceu.

O recente lançamento da coleção primavera/verão 2020, batizada “Memento” (e o nome não será inocente), é paradigmático: um monumento à tradição do calçado português, reinterpretado com construções e paletas cromáticas que entendem que a história não pode justificar a estagnação.

A Sanjo quer recuperar os anos perdidos, reconquistar o seu lugar no imaginário dos portugueses, construir uma ponte entre gerações – e garantir que a podemos percorrer com sapatilhas portuguesas nos pés. Cá estaremos para ver.

Descobre a coleção Memento na loja on-line da Sanjo.